terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Consumo, delírio de identidade


Texto: Viviane foto: Divulgação
Resenha do filme “Delírios de consumo de Becky Bloom” relacionado ao texto “O homem sem qualidades: modernidade, consumo e identidade cultural.Consumo, modernidade, sujeito, identidade e estilo de vida. Estes cinco tópicos definem muito bem o momento presente do homem na sociedade. No texto “O homem sem qualidades: modernidade, consumo e identidade cultural” de Silvia Pimenta Velloso Rocha, o paradoxo do consumo é questionado e abordado a fim de levantar questões contrastantes: Quem somos? Somos o que consumimos? Consumimos para “ser”?A comédia romântica “Delírios de consumo de Becky Bloom”, com direção de P. J. Hogan, trata justamente do contexto de consumir para “ser”. Logo no início do filme a personagem principal, Rebecca Bloomwood, faz uma narrativa de como ela se sente ao ver uma loja, ela compara com a sensação de uma mulher ao ver um homem bonito que lhe sorri. Comprar parece ser tudo na vida de Becky, quando ela compra e veste a roupa tão desejada sua personalidade muda, ela se sente mais confiante. Em seu apartamento já não cabe mais nada, seus sete cartões de crédito não bastam para suprir sua necessidade de consumo, mas ela continua comprando...
A modernidade, a moda e os avanços tecnológicos fazem com que o mercado de consumo se renove cada vez mais rápido, o objeto de consumo vendido hoje como sendo uma necessidade para sermos bem vistos na sociedade, amanhã está defasado e obsoleto. Sendo assim quem não acompanha esse ritmo também é considerado como “atrasado”. Silvia Pimenta conclui que a ruptura com a tradição e a apresentação de escolhas fez com que a sociedade de consumo se fortalecesse, essas escolhas configuram um “estilo de vida” com valores e costumes agregados segundo a imposição de um mercado capitalista. Para manter o “estilo de vida” mascarado pela “liberdade de escolha” a personagem do filme precisa mudar de emprego para sustentar seu vício de consumo. Sonhando em trabalhar para uma revista de moda, ela decide comparecer a uma entrevista de trabalho. Se arruma toda, escolhe uma das milhares de roupas que comprou e parte para o encontro profissional.No caminho as vitrines chamam sua atenção, os manequins parecem chamar seu nome e um objeto de consumo lhe seduz. Uma echarpe verde, com preço alto e que tem um astuta promotora de venda como incentivo. Becky não resiste, ela quer ser tudo aquilo que acredita que será se estiver usando aquela echarpe, ela crê que sairá bem na entrevista se tiver aquele “objeto magnífico”. Ela fala consigo mesma que acaba de receber uma fatura de cartão com valor altíssimo e que não precisa daquele acessório. Então num delírio de consumo o manequim da loja que veste a echarpe começa a falar com ela, defendendo que este objeto fará parte de sua definição. “Seus olhos parecerão maiores”, “Você entrará na sua entrevista confiante, a garota da echarpe verde!”, comenta o manequim para Becky.
A personagem faz malabarismos para comprar essa promessa de autoconfiança representada pela echarpe, mas na entrevista de trabalho não se sai bem e acaba por trabalhar, ironicamente, em uma revista de finanças. Ela começa então a perceber o mundo econômico com outros olhos através de pesquisas ela compara o mercado financeiro com sua compulsão consumista. Becky também está passando por problemas com amigos por conta desse consumo desenfreado e os cobradores estão à sua caça. Neste momento, já em seu novo emprego, começa a fazer textos para a revista que prega exatamente o contrário do que ela vive aconselhando as pessoas a comprar o necessário e não o desejado.Muitas coisas acontecem até que a personagem consiga resgatar o equilíbrio e se livrar das roupas e sapatos entulhados em casa, até que ela se encontre e perceba qual é sua real identidade e o que realmente tem valor para ela.A subjetividade produzida pela aquisição de produtos é na verdade o “objeto de consumo” esta hipótese é levantada no texto de Silvia e o filme ilustra isso muito bem. Com cenas engraçadas e que muita gente acaba se identificando, os delírios de Backy são delírios de uma sociedade que cresce aprendendo a comprar, comprar e comprar.Nota: O filme é baseado no livro de mesmo nome da autora Sophie Kinsella (2001).

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